06 junho 2019

Quinta-feira | 21h45 | Cine-Teatro Garrett
Sessão #1457
Título original: Us

De: Jordan Peele
Com: Anna Diop, Elisabeth Moss, Lupita Nyong'o
Género: Terror
Classificação: M/16
Outros dados: EUA, 2019, 120 min.

SINOPSE
Para escapar à agitação do dia a dia, Adelaide e Gabe Wilson levam os dois filhos para uns dias tranquilos numa casa de praia em Santa Cruz, Califórnia. Tudo corre como o previsto até, numa noite, receberem a visita de quatro pessoas que, para seu espanto e horror, são a cópia exacta de cada um deles. Esses duplos são idênticos a si na aparência, mas também na forma de pensar. E o mais terrível de tudo isso é que estão ali com um único propósito: acabar com as suas vidas.

Um "thriller" psicológico produzido, escrito e realizado por Jordan Peele, depois do enorme sucesso do oscarizado "Foge" (2017). 


Jordan Peele’s “Us” Is a Colossal Cinematic Achievement. NEW YORKER

Se "Foge" é dirigido aos anos de Barack Obama e à esperança promissora de Hillary Clinton, "Nósvisa sobretudo Donald Trump e o seu lema “Make America Great Again”. À PALA DE WALSH



Seleção de Crítica: por João Lopes, in Diário de Notícias

Cinema de terror? É, hoje em dia, um espaço em que se cruza a experimentação mais interessante com a rotina mais banal. E podemos ter a certeza que o americano Jordan Peele se distingue por uma aversão a clichés que, no limite, o leva a desafiar os nossos pressupostos de espetadores.

Porque é que o novo filme de Jordan Peele se chama Nós? A pergunta tem tanto de rudimentar como de sugestivo. E é, obviamente, motivada. Não precisamos de a recobrir com qualquer mistério mais ou menos esotérico.
[…]
Não se trata, entenda-se, de incluir Nós na hiper-abundância de filmes de terror que tomou conta de uma parte significativa do mercado. Jordan Peele será tudo o que se quiser, menos um funcionário de qualquer formatação de qualquer género. Já o sabíamos, claro, através da sua primeira longa-metragem, Foge (2017), brilhante parábola sobre a coexistência de negros e brancos na América contemporânea (que lhe valeu um Óscar de melhor argumento original).
[…]
Somos confrontados com uma série de peripécias (muitas e surpreendentes!) que vão adensar e, por fim, "explicar" todo este jogo de duplos mais ou menos fantasmáticos…
[…]
Que medos são esses? A resposta a tal pergunta está longe de ser automática. Em boa verdade, envolve as dúvidas e perplexidades que ecoam na filosofia existencial que atravessa um filme como Nós. Porquê? Porque Jordan Peele coloca em cena o assombramento que habita a própria comunidade em que tudo acontece. Como se os indivíduos e as famílias deparassem com a indizível perturbação de não se reconhecerem nos seus vizinhos e semelhantes...

Enfim, não será necessário relembrar que, do "western" clássico a algumas aventuras inter-galácticas, tal perturbação atravessa toda a cultura cinematográfica americana. Aliás, para os mais dados a especulações simbólicas, também não será preciso referir que o título original do filme, Us, reproduz as duas primeiras iniciais de um país que se construiu a partir da utopia da união perfeita das suas comunidades, isto é, dos seus "United States".


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