07 outubro 2021

Quinta-feira | 21h45 | Cine-Teatro Garrett

Sessão #1545


Annette

Título original: Annette


De: Léos Carax

Com: Marion Cotillard, Adam Driver, Simon Helberg, Rila Fukushima

Género: Drama, Musical

Classificação: M/14

Outros dados: EUA/ALE/BEL/JAP/SUI/FRA/MEX, 2021, 139 min.



SINOPSE

Los Angeles, EUA. Henry (Adam Driver) é um famoso comediante de “stand-up”; Ann (Marion Cotillard) é uma cantora de ópera reconhecida mundialmente. Os dois estão apaixonados e vivem felizes. Mas quando nasce a primeira filha, uma menina a quem dão o nome de Annette, a sua vida muda radicalmente. 


Filme de abertura da 74ª edição do Festival de Cinema de Cannes, este musical romântico conta com realização do cineasta de culto Leos Carax (“Paixões Cruzadas, "Pola X", “Holy Motors”) e música original dos Sparks, a banda constituída pelos irmãos Ron e Russell Mael, que também se responsabilizam pelo argumento. (Fonte: CineCartaz)



Prémios e Festivais:

Festival de Cannes em 2021 - Seleção Oficial e prémio de Melhor Realizador



Los Angeles Times ★★★★★

The Telegraph ★★★★★

The Atlantic ★★★★★

RogerEbert ★★★★


Notas da Crítica:


«Mind-blowing musical fantasia» - Indiewire


«Belo, sensual, surpreendente» - The Telegraph


«Leos Carax em direção às tempestuosas cadências sentimentais» - Hugo Gomes, Sétima Arte


«Um musical desconcertante, uma experiência de cinema total» - Variety


«For those seeking surprises, spectacle, and shadows, Annette is a marvel like no other.» - Irish Times 



Seleção de crítica: por Hugo Gomes, no Cinema Sétima Arte.


“Em matéria de Leos Carax, era o que esperávamos e igualmente o que não esperávamos. Passo a explicar, do realizador dos ecléticos exercícios como “Holy Motors”, “Má Raça” e “Os Amantes da Ponte Neuf”, era mais que expectável algo que saísse da sua errante trajetória artística, que não fizesse “pandã” com o gesto anterior, e nisso foi concretizado em forma de musical. O que não esperávamos era ver um Carax fascinado aos elementos que compõem a convencionalidade, territórios escassamente evadidos no género em questão.


O resultado, esse, é um autêntico cuscuz, fervido em água e sal e servido como acompanhamento. Quanto a tal acompanhamento, deparamos com a mais valia de “Annette”, os momentos “fora da caixa” que desafiam ainda mais a própria credibilidade do musical e o gosto generalizado de quem os consome. Seja sexo oral, valsas furiosas ao sabor das ondas, ou o propositado uncanny valley (vale da estranheza) numa das personagens, artifícios e artificialidades que colocam Adam Driver e Marion Cottilard (um portento casal), em na coreografia estabelecida do cinema de Carax, os romances autodestrutivos.


As consequências são levadas ao extremo numa sintonia composta pelos Sparks, reunindo paixões, ódios, a comédia como escudo de uma sociedade consciente, ou meramente consciente da sua consciência, e até espaço para emaranhados meta, na sua formalidade ou na sua temática (o #metoo referido como uma faca de dois gumes). O realizador sempre desejara elaborar um convicto musical, nunca o escondeu na sua filmografia, principalmente nos sketches aprimorados do anterior “Holy Motors”, porém, nunca prevíamos a sua cedência pelo encanto do mesmo e uma maior hesitação à bizarria com que anseia (julgamos nós) romper.


Mesmo assim, tendo em conta que “Annette” é até à data o seu filme mais acessível e o mais “americanizado” (não tento com isto soar um termo pejorativo, mas no sentido do seu virtuosismo), a estranheza, mais do que um “vale”, é uma dança que cadenciamos em ritmos diferentes.



+Crítica: Diário de Notícias, Visão, El País-Brasil, Público, RogerEbert, The Atlantic, The Guardian, The Irish Times, New Yorker.



23 setembro 2021

Quinta-feira | 21h45 | Cine-Teatro Garrett

Sessão #1544



Esta sessão está incluída na programação geral do Festival de Teatro É-Aqui-In-Ócio, numa parceria com o Varazim Teatro.



Family Romance, LLC.

Título original: Family Romance, LLC.


De: Werner Herzog

Com: Mahiro Tanimoto, Ishii Yuichi

Género: Drama

Classificação: M/12

Outros dados: EUA, 2019, 89 min.




SINOPSE

A Family Romance LLC.  é uma empresa que oferece serviços muito peculiares: atores que podem substituir os clientes em situações de necessidade, sejam elas profissionais ou pessoais. Yuichi Ishii, um dos funcionários, tem agora a responsabilidade de substituir o pai desaparecido de Mahiro, uma menina de 12 anos que enfrenta graves dificuldades em lidar com a ausência paterna.


Reflexão sobre a solidão, isolamento e artificialidade nas sociedades modernas, este é um drama ficcional, de inspiração documental, realizado pelo veterano Werner Herzog ("Grizzly Man", "Rescue Dawn - Espírito Indomável", "Polícia sem Lei", "Rainha do Deserto"). (Fonte: CineCartaz)



Time Out ★★★★

The Observer ★★★★

The Guardian ★★★

Empire ★★★

Slant Magazine ★★★

RogerEbert ★★★



Notas da Crítica:


«Momentos de pura transcendência excêntrica» - Daily Telegraph


«Um dos melhores filmes de Werner Herzog nos últimos 10 anos.» - Hugo Gomes, c7nema


«It's so intriguing as a premise that it carries you through the film.» - FilmWeek


«Is it a docudrama? A meta-doc? Staged reality? However you define it, it's enthralling, unsettling and typically Herzogian.» - Eurico de Barros, Time Out 



Seleção de crítica: por Inês Moreira Santos, no Hoje Vi(vi) um Filme.


“Family Romance, LLC, de Werner Herzog, fez parte da secção Da Terra à Lua do Doclisboa'19. O cineasta ficciona a realidade e mostra-nos como funciona a Family Romance, uma empresa que aluga humanos de substituição para todas as necessidades dos seus clientes – seja um membro da família para uma ocasião especial, alguém para assumir a culpa de um engano no trabalho, um estranho para ajudar a reviver o melhor momento da vida. 


A realidade japonesa poderia dar um (ou muitos) caso de estudo. Family Romance, LLC demonstra isso mesmo na perfeição, com todos os dilemas morais e éticos subjacentes. Ao mesmo tempo, o próprio conflito interior em redor do presidente executivo da empresa, Yuichi Ishii, é filmado intimamente.


No filme, uma mãe pede a Ishii para se fazer passar pelo marido há muito ausente e restabelecer a ligação com a filha adolescente. Com o decorrer da "mentira", a jovem começa a criar laços com o actor, e mesmo Ishii receia apegar-se a ela. Correndo o risco de despersonalização o jovem empresário sente-se perdido no meio de tantas personalidades e do seu "eu" real.


Dinâmico e sempre inesperado, Family Romance, LLC funciona com humor e complacência. No entanto, Herzog deixa-nos sempre bem presente que aquelas pessoas existem e que os actores dividem-se por diversas famílias falsas, assumindo o papel de uma pessoa diferente em cada uma delas. Põe-se a questão: onde ficam as fronteiras entre a vida profissional e a vida pessoal? Será que, neste caso, elas se distinguem?


Werner Herzog utiliza o falso documentário para retratar uma realidade que é quase inacreditável para a população ocidental, ao mesmo tempo que reflecte sobre as necessidades com que o mundo atual se depara.”



+Crítica: Time Out, c7nema, Hoje Vi(vi) um Filme, Cenas de Cinema, Sight & Sound, RogerEbert, Slant Magazine, The Guardian, The Observer, Empire.



16 setembro 2021

Quinta-feira | 21h45 | Cine-Teatro Garrett

Sessão #1543


O Movimento das Coisas

Título original: O Movimento das Coisas


De: Manuela Serra

Género: Documentário

Classificação: M/12

Outros dados: POR, 1985, Cores, 85 min.




SINOPSE

"O Movimento das Coisas" é um dos filmes mais curiosos que nas décadas de setenta e oitenta abordaram o universo rural do norte português. Começado a desenvolver no interior da Cooperativa VirVer, em cujos projetos Manuela Serra trabalhou durante vários anos, só seria concluído algum tempo depois. Contudo, tudo aquilo que terá sido a razão de ser da maior parte dos outros filmes documentais, sobretudo etnográficos, parece ter sido aqui depurado, senão eliminado, gerando outros sentidos.



PRESS-kit de "O Movimento das Coisas"



Especial Cine-Tendinha #401



Diário de Notícias-João Lopes ★★★★★

Diário de Notícias-Rui Tendinha ★★★★

Diário de Notícias-Inês Lorenço ★★★★

Time Out ★★★



Notas da Crítica:


«Uma joia perdida» - Manuel Halpern, Visão


«Um objeto singular e fascinante do cinema português» - João Lopes, Diário de Notícias


«Nunca estreado mas objeto de devoção ao longo dos anos» - Público


«Afirmo sem receio de apedrejamentos, que duvido, até à data, que haja mais belo filme sobre o campo que este filho único de Serra. Tão único como a porcelana pintada à mão do qual a anciã consome a sua “sopa tinta improvisada”.» - Hugo Gomes, SapoMag



Seleção de crítica: por João Lopes, no Cinemax-RTP.


Para lá do documentário e da ficção


“A data de um filme não esclarece a sua identidade, mas há factos objetivos que importa não escamotear. No caso de "O Movimento das Coisas", de Manuela Serra, é inevitável começarmos por dizer que a sua chegada às salas de cinema ocorre 36 anos depois da sua conclusão...


Este é, de facto, um filme de 1985 que arrasta, por isso, uma certeza amarga: o cinema português continua a viver assombrado por percalços deste género — o problema da sua difusão colocava-se em 1985 e, como se prova, continua a ser assunto de reflexão em 2021. 


Dito isto, creio que importa também sublinhar a irredutibilidade do objeto que, finalmente, temos à nossa frente. Assim, é verdade que existe uma tradição documental etnográfica no cinema português e face a "O Movimento das Coisas", o nosso primeiro impulso será o de inscrevermos a sua depurada beleza em tal tradição — não será um erro, mas parece-me que é manifestamente insuficiente.


Se há filmes que nos ajudam a repensar as fronteiras clássicas entre documentário e ficção, "O Movimento das Coisas" é um desses filmes. De que se trata, então? De uma deambulação por cenários da aldeia de Lanheses, na zona de Viana do Castelo, registando as tarefas quotidianas dos seus habitantes, alguns momentos da sua vida caseira e também, em particular, os seus rituais religiosos.


Tudo isso, podendo ser definido como documental, vai-se transfigurando em qualquer coisa de eminentemnte poético — como se cada quadro de vida fosse também uma ficção abstrata em que podemos contemplar um mistério que fica sempre por esclarecer. Daí o paradoxo fascinante: "O Movimento das Coisas" é uma memória de um tempo outro, sem que isso o impeça de ser um facto capaz de desafiar o nosso entendimento presente do próprio cinema como acontecimento e linguagem.”



+Crítica: Diário de Notícias, À pala de Walsh, Visão, Público, iOnline, SapoMag, Luzlinar, MutanteRaquel Schefer.