Quinta-feira | 19h | Cine-Teatro Garrett
Sessão #1535
Título original: Dorogie Tovarishchi
De: Andrey Konchalovskiy
Com: Yuliya Vysotskaya, Vladislav Komarov, Andrey Gusev
Género: Drama, Histórico
Outros dados: RUS, 2020, 116 min.
SINOPSE
União Soviética, 1962. Membro do Partido Comunista, Lyudmila acredita cegamente que trabalha em prol de uma sociedade justa e igualitária. Mas tudo muda quando, durante uma greve na fábrica de construção de locomotivas em Novocherkassk, testemunha um grupo de trabalhadores a ser assassinado a tiro de metralhadora sob as ordens do governo. O objectivo era encobrir as revoltas populares que surgiam com frequência devido às duras condições de trabalho e ao aumento das quotas de produção mínimas para cada funcionário, que lhes reduzia as remunerações. A partir daquele momento, toda a visão do mundo de Lyudmila se altera irremediavelmente.
Um drama baseado em factos reais que conta com realização, produção e argumento do veterano Andrei Konchalovsky ("O Rolo Compressor e o Violino", "Paraíso”). (Fonte: CineCartaz)
Prémios e Festivais:
Óscares 2021 - Indicação russa para seleção a Melhor Filme Internacional
Festival de Veneza 2020 - Grande Prémio do Júri
Festival de Chicago 2020 - Vencedor do SilverHugo para Melhor Realizador
Lisbon & Estoril Film Festival 2020 - Seleção Oficial
The Guardian ★★★★
Financial Times ★★★★
Time Out ★★★★
RogerEbert ★★★
Notas da Crítica:
«A masterpiece.» - The New Yorker
«Gripping… engrossing… gorgeously shot.» - The Guardian
«Majestic. Epic in Scope.» - Variety
«A passionate drama of fear and rage.» - Time Out
«Pristine, extraordinary... beautiful and coldly furious.» - Jessica Kiang, Variety
Seleção de crítica: por João Lopes, no Cinemax-RTP.
Política, memórias e solidão
“Lyuda, a personagem central de "Caros Camaradas!" (interpretada pela extraordinária Yuliya Vysotskaya) vive numa encruzilhada em que o sentido comunitário se vai transfigurando em desesperada solidão. Por um lado, face à repressão exercida pelas forças do seu próprio partido — o Partido Comunista da URSS —, não pode deixar de sentir um profundo desgosto; por outro lado, numa idealização à beira do delírio, esforça-se por continuar a acreditar naquilo que seria a "pureza" dos seus ideais, ilusoriamente vividos na época de Estaline.
Dito de outro modo: "Caros Camaradas!" é um filme ágil e subtil que sabe colocar em cena uma dinâmica colectiva sem perder de vista as contradições individuais. Mais concretamente, trata-se de abordar um episódio trágico do comunismo na URSS: em 1962, uma greve dos trabalhadores de uma fábrica de locomotivas, na cidade de Novocherkassk, foi violentamente reprimida pelo exército e elementos do KGB, tendo sido mortas, a tiro, durante uma manifestação, várias dezenas de pessoas.
"Caros Camaradas!" representa, assim, mais um capítulo fundamental do trabalho de Andrei Konchalovsky, ainda e sempre empenhado em revisitar determinadas conjunturas históricas com uma paixão obstinada pelos factos, sem ceder a esquematismos políticos ou panfletários — lembremos o exemplo de um dos seus títulos mais recentes, "Paraíso" (2016), cruzando três histórias de outras tantas personagens durante a Segunda Guerra Mundial.
O exemplo de "Caras Camaradas!" é tanto mais envolvente e perturbante quanto Konchalovsky relança o seu gosto realista, paradoxalmente espelhado pela admirável fotografia a preto e branco, assinada por Andrey Naydenov. Este é um cinema que nasce de um enfrentamento da memória, na certeza de que a sua preservação constitui uma componente ética de qualquer argumentação política.
A esse propósito, lembremos o lugar traumático que o massacre Novocherkassk ocupa na história do regime soviético. As suas repercussões, aliás, o seu silenciamento (já que, na altura, foi "decretada" a proibição de as testemunhas divulgarem o que tinha acontecido) foi tão intenso que a investigação oficial do que tinha ocorrido só teve lugar em 1992, já depois do fim da URSS."
+Crítica: Público, Hoje Vi(vi) Um Filme, Cinema7arte, Observador, AC Club, Sight & Sound, Slant Mag, RogerEbert.
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