26 novembro 2020

Quinta-feira | 19h | Cine-Teatro Garrett

Sessão #1519


O Que Arde

Título original: O Que Arde


De: Oliver Laxe

Com: Amador Arias, Benedicta Sánchez, Inazio Abrao

Género: Drama

Classificação: M/12

Outros dados: ESP/FRA, 2019, Cores, 90 min.



SINOPSE

Depois de passar uma temporada na prisão por fogo posto, o galego Amador regressa à sua terra natal sem amigos nem dinheiro, para viver com a mãe e refazer a sua vida, julgado por tudo e todos pelos danos do incêndio pelo qual foi responsável. Um filme de Oliver Laxe (“Mimosas”). (Fonte: Público)




Prémios e Festivais:

Festival de Cannes (2019) - Prémio do Júri da secção Un Certain Regard

Goya Awards 2020 - 4 nomeações: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Fotografia, Melhor Atriz Revelação

Lisbon & Estoril Film Festival 2019  - seleção oficial



Notas da Crítica:


«Dreamy, mesmerising and powerful» - Variety


«Hypnotic and beautiful”» - The Hollywood Reporter


«Captivating» - Le Monde


«Emotional Spanish drama» - The Guardian


«An enigmatic and poetic cinema, borne of fierce, barely-contained vision» - CineVue


«Laxe paints an immersive portrait of the Galician countryside, in which the mystery and beauty of the landscape dwarfs the inner turmoil of those who occupy it. » - Sight & Sound



«Uma história de lume e sacrifício» - frase de promoção




Seleção de crítica: por Carlos Natálio, no À pala de Walsh.


“O que arde”: quase tudo


“Se abrirmos sensivelmente a meio esta terceira longa metragem de Oliver Laxe sai de lá de dentro um belo momento de cinema. Amador Arias, que havia regressado a casa, em Lugo na Galiza, por se encontrar em liberdade condicional após ter cumprido dois anos de pena por crime de incêndio florestal, procura integrar-se novamente na comunidade, em especial restabelecendo a relação com a sua mãe, Benedicta. Na cena em concreto, ele vai na carrinha da veterinária da zona, mulher bonita. Ambos transportam uma das vacas dele que tem de ser tratada numa pata. Em campo/contra-campo, os dois falam e sabemos que ele mente sobre o seu passado e que ela empatiza com ele. O ambiente é vagamente romântico: ele é a primeira vez que lhe apetece falar com alguém desde que saiu; ela conta um pouco da forma como chegou a viver no campo. A dado momento, ela coloca uma cassete de música. Ouvimos os primeiros acordes de Suzanne de Leonard Cohen e ela pergunta-lhe se gosta. Ele diz que não entende a letra, mas que simpatiza com a música. Talvez a música sirva melhor a cena do que o realismo das suas personagens. […]


Nos últimos anos, para nos chegarmos mais ao presente e a filmes da família de O que arde, vimos Alva (2019) de Ico Costa ou Western (2017) de Valeska Grisebach, ambos com personagens calados, olhares-ecrã, radares da realidade, que vão enchendo até transbordar o interior com os golpes da vida.


Portanto, o fogo que vai na cabeça de Amador é metáfora e não é. Os eucaliptos são mesmo maléficos, com raízes quilométricas, mas a quebra do amor, a suspeição dos vizinhos, tudo isso também incendeia. E talvez ainda um espaço que arde na memória de crescimento da imaginação de Oliver Laxe. O que nos remete para a derradeira filiação. O que há de maravilhoso nos espaços da ruralidade da Galiza que tenha originado um novo impulso criativo: o denominado novo cinema galego? Juntamente com Oliver Laxe, contamos pelo menos Eloy Enciso [Arraianos (2012); Longa Noite (2019)] e Lois Patiño [Costa da Morte (2013); Lúa vermella (2020)]. Dos três, Laxe é o mais realista e clássico. Enciso e Patiño partem do mesmo espaço para o transfigurar, com uma dimensão política e alegórica o primeiro, com um tom sobrenatural e maravilhoso o segundo.


Em suma, O que arde é a balada, por vezes lírica, outras vezes frágil e delicada, de um homem marcado, em suspensão. E o filme dessa balada é um olhar incendiado pela beleza e pelo fulgurante detalhe de todos e de tudo o que compõe o universo da ruralidade galega.”



+Crítica: FilmSpot-entrevista, Cinema7arte, Cenas de CinemaHoje Vi(vi) um Filme, CineVue, The Guardian, Sight & Sound, RogerEbert.


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