16 maio 2019

Quinta-feira | 21h45 | Cine-Teatro Garrett
Sessão #1454
Título original: Chuva É Cantoria Na Aldeia Dos Mortos


De: João Salaviza, Renée Nader Messora
Com: Henrique Ihjãc Krahô, Raene Kôtô Krahô
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: BRA/POR, 2018, 114 min.


Cannes 2018 - Prémio do Júri da secção Un Certain Regard
Festival de Cinema de Lima - Melhor obra de ficção e Melhor fotografia



SINOPSE
Ihjãc tem 15 anos e é um dos indígenas krahô do norte do Brasil. Perdeu o pai e é visitado pelo espírito dele, o que o leva a preparar uma festa de fim de luto. Entre o documentário e a ficção, este filme de João Salaviza e Renée Nader Messora resulta do convívio de anos que os realizadores tiveram com este povo indígena. PÚBLICO

Seleção de Crítica: por Manuel Helpern, in Visão

João Salaviza fugiu do ambiente (sub)urbano, feito das cores cinzentas do betão e das histórias de adolescentes na Grande Lisboa, para se sitiar na aldeia de Pedra Branca, terra dos índios krahô, no estado de Tocantins, nos confins do Brasil. Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, realizado por João e pela brasileira Renée Nader Messora, não é apenas um filme, mas o resultado mais visível e partilhável de um projeto de vida. Isto porque João e Renée se mudaram, sem armas mas com bagagens, para aquele território além do fim do mundo, onde já vivem há mais de um ano, tornando-se parte da comunidade, como se fossem índios adotivos. Tudo isto se reflete no filme que agora se estreia, apesar de não conter traços biográficos nem sequer se tratar de um documentário, em sentido estrito. Reflete-se apenas na luz que ressalta do olhar da câmara.

Perante este luxuriante universo, antropologicamente e humanamente fascinante, a dupla não foi pelo caminho mais esperado. Não construiu um documentário em volta dos krahô, explicando os seus hábitos e costumes. Assim como Salaviza havia feito em Rafa (por exemplo), aproveita-se de expedientes da realidade para a transformar em ficção, na história que quer contar. Desta vez, tem como protagonista Ihjãc, um jovem, que foge da aldeia, com medo do chamamento para ser xamã, e ao mesmo tempo prepara-se para o ritual de fim de luto pelo pai. O filme, com uma fotografia espantosa, dá-nos acesso à intimidade quotidiana dos krahô, aos seus rituais, ao modo de vida e ao modo de ser, a relação com os homens brancos, as angústias, as preocupações. E, ao mesmo tempo, conta-nos uma história de alguma forma universal, válida em qualquer parte do mundo.


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