1 Dezembro 2011

Quinta-feira - Sessão #1145
21h45 Auditório Municipal


 O Gosto do Saké (1962) - Sanma no aji
de Yasujiro Ozu
com Chishû Ryû, Shima Iwashita e Keiji Sada
112 min, Japão
crítica: Slant, TheHouseNextDoor, EyeForFilm, CombustibleCelluloid, Criterion, Criterion, AVClub, sound+vision (em português)



O Gosto do Saké (1962), derradeiro trabalho de uma filmografia de mais de três décadas (iniciada em 1927, ainda no período mudo) que possui um incontornável valor simbólico: nele se condensa o desencanto do cineasta face ao Japão do pós-guerra e, em particular, à metódica desagregação das tradicionais relações familiares e sociais.
Ozu foi o inventor genial de um universo comandado por uma obsessiva austeridade narrativa. Os seus modos de encenar têm tanto de rigor formal como de peculiar entendimento dos espaços do quotidiano (são célebres as suas imagens das personagens enquadradas a partir do olhar que assumem quando se instalam sobre os típicos tapetes, “tatamis”, das casas japonesas). Apesar disso, ou justamente por causa disso, importa acrescentar que ele nunca foi um “formalista”, já que, em última instância, é a pluralidade do factor humano que comanda o seu cinema.
O Gosto do Saké possui um valor exemplar, quanto mais não seja porque traduz a crescente depuração das linguagens de Ozu. A história que nele se conta, centrada num veterano da guerra que tenta garantir um bom casamento para a sua filha, acaba por ser um espelho delicado, não isento de crueldade, de um tempo de reconversão acelerada da sociedade nipónica. Por um lado, todas as personagens de Ozu transportam um pudor tecido de muitos segredos; por outro lado, o seu cinema tende a criar uma transparência rara onde, por assim dizer, podemos compreender esses segredos sem destruir o pudor. Ironicamente ou não, O Gosto do Saké é, neste momento, em Portugal, um dos grandes acontecimentos cinematográficos.
João Lopes in sound+vision, http://sound--vision.blogspot.com/2008/04/sentados-no-tatami.html

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